Cartografia (ADAGEO)

 Análise dialectométrica e cartografia da variação linguística

Descrição do projeto

Este projeto destina-se a aprofundar os estudos em variação linguística e, em particular, variação geoprosódica, focando essencialmente três línguas românicas:  português (continente e ilhas), mirandês e galego, embora passível de aplicação a outras línguas.

Recorrendo aos dados resultantes das análises acústicas do Projeto internacional AMPER-POR,  decidimos, em colaboração com o Instituto de Língua Galega, Universidade de Santiago de Compostela, Espanha, abraçar um Projeto de representação cartográfica das variedades geoprosódicas das três línguas românicas acima referidas.

Os resultados poderão vir a ser validados por testes percetuais e complementados por análises dialectométricas conducentes a representação cartográfica. As tarefas envolverão a continuação da recolha de dados no terreno, sua segmentação e codificação, análise acústica experimental, tratamento estatístico dos dados, análise dialectométrica e cartografia.  Estas tarefas, sobre novos dados já existentes, virão a permitir análises contrastivas do continuum linguístico e uma melhor e mais completa descrição das variedades linguísticas. As ferramentas de análise dialectométrica e cartográfica a desenvolver durante o projeto constituirão uma mais-valia importante para estes estudos e serão disponibilizadas na web a todos investigadores interessados nesta temática em variedades românicas e não românicas.

Objetivo geral

Os principais objetivos dos estudos na variação geoprosódia visam, partindo do conhecimento de estudos e pesquisas já realizados, incorporar novas pesquisas e dar, assim, continuidade, ao desenvolvimento e partilha de investigação no domínio da fonética experimental aplicada ao estudo da variação prosódica nas variedades românicas. Estas partem sempre da recolha de dados no terreno e sua análise acústica. Os estudos acima descritos permitirão melhor compreender as regras de estruturação prosódica da língua portuguesa, confrontá-las com outras línguas e variedades românicas e conhecer a variabilidade geoprosódica no espaço dialectal e nas variedades regionais. Embora o foco seja o diassistema linguístico português europeu, mirandês e galego, estas pesquisas tornam-se  tanto mais relevantes, quanto são também de fulcral importância para o estudo da prosódia no restante domínio linguístico românico. O projeto possibilitará a implementação de abordagens de tipo quantitativo já experimentadas, parcialmente, tanto para a variedade do português europeu, como para o galego. A finalidade última do projeto é, pois,  disponibilizar na web, a todos investigadores interessados na temática, uma plataforma plataforma digital e interativa de representação cartográfica das variedades prosódicas dialectais do português, galego e mirandês . De salientar ainda que a plataforma cartográfica, concebida inicialmente para variação prosódica, poderá vir a permitir a inclusão posterior de outros níveis de variação linguística (fonético, lexical, sintático).

Procedimentos metodológicos

Os mapas, que representam os valores obtidos nas primeiras experiências comparativas de distâncias prosódicas para alguns pontos de inquérito de Portugal Continental, têm por base diferentes amostras de dados acústicos apurados para o espaço geográfico representado.

Para esta primeira experiência definimos como ponto de referência a Beira Litoral (a azul mais escuro) com a qual se comparam todos os outros pontos, aqui representados em várias tonalidades de azul.

Esta representação cartográfica, obtida através da aplicação de um algoritmo, é denominada Diagrama de Voronoi (DV) e permite, no caso que aqui nos interessa, comparar as distâncias prosódicas.

Essa comparação é efetuada cotejando a média resultante das amostras de um ponto de inquérito com os restantes pontos para os quais já existem dados da análise acústica.

As imagens disponíveis em https://www.varialing.eu/?page_id=5418 descrevem os vários passos no processo de representação cartográfica até à obtenção da imagem final: mapas onde serão refletidas as semelhanças/diferenças entre as várias regiões com base na representação dos polígonos. Trata-se de uma representação de informação espacial dos dados, permitida pela tecnologia GIS, uma técnica de visualização simples e que nos permite descobrir padrões de comportamento e relacionamento dos dados entre si.

Evolução da pesquisa

Neste momento, utilizando a mesma metodologia, foram já tratados uma maior quantidade de dados, de modo a abarcar todas as regiões continentais. Nesse espaço geográfico, foram gravados 44 informantes oriundos de 22 pontos de inquérito. Os mapas abaixo são a representação cartográfica e foram criados, como já foi dito, a partir dos resultados das análises acústicas desses mesmos dados.

Os mapas acima têm Aveiro como ponto de referência para o cálculo das distâncias prosódicas. O mapa da esquerda tem representada a variação prosódica dos enunciados declarativos, enquanto que no da direita estão patentes os resultados para os interrogativos. A gradação de cores é uma visualização do grau de afastamento/aproximação das variedades estudadas. Sendo o ponto de referência marcado pela tonalidade mais escura, os polígonos de tons mais escuros estão mais próximos e os mais claros mais afastados deste ponto de referência.

Ao observarmos os mapas, podemos constatar que a correlação de semelhança com Aveiro é mais evidente nos enunciados declarativos, visto que é maior o número de pontos de tonalidade mais escura. Por outro lado, constatamos uma maior dispersão de padrões prosódicos no caso dos enunciados interrogativos, mesmo dentro de regiões que integram a mesma área geográfica. Veja-se, por exemplo, o que acontece no Algarve e no Alentejo.


Tabela comparativa dos resultados das análises acústicas

A partir deste momento, todos os dados de Portugal continental podem ser consultados e comparados para os vários pontos de recolha e os diferentes informantes.  Na tabela onde estão incluídos esses dados, podemos ouvir a síntese do enunciado. Também podemos observar a representação da melodia e da duração, de forma gráfica. Apesar do corpus AMPER conter estruturas frásicas constituídas por 10, 13 e 14 vogais, para este estudo, foram apenas consideradas frases com 10 vogais. Estas frases têm uma estrutura SVO e dizem respeito a dois falantes (homem e mulher), nas modalidades declarativa e interrogativa, dos 22 locais onde foram recolhidas e estudadas as amostras.

A partir deste momento, todos os dados de Portugal continental podem ser consultados e comparados para os vários pontos de recolha e os diferentes informantes.  Na tabela onde estão incluídos esses dados, podemos ouvir a síntese do enunciado. Também podemos observar a representação da melodia e da duração, de forma gráfica. Apesar do corpus AMPER conter estruturas frásicas constituídas por 10, 13 e 14 vogais, para este estudo, foram apenas consideradas frases com 10 vogais. Estas frases têm uma estrutura SVO e dizem respeito a dois falantes (homem e mulher), nas modalidades declarativa e interrogativa, dos 22 locais onde foram recolhidas e estudadas as amostras.
Podemos, então, considerar um total de 1600 amostras estudadas e aqui representadas. 

Está em curso o mesmo estudo aplicado às variantes insulares de Açores e Madeira, que brevemente estarão disponíveis. Incluiremos também, neste processo, as variantes do baixo Minho galego que se têm revelado como fazendo parte de um continuum linguístico no oeste peninsular. Quando o volume de análises acústicas o justificar, procederemos também ao processamento dos dados relativos à língua mirandesa.

Será neste espaço que daremos conta da evolução desta pesquisa, onde serão apuradas as distâncias prosódicas entre as diferentes variedades.

Já é possível utilizar a interatividade nestes mapas dialectométricos relativos à variação prosódica do português europeu. Ao clicar neste link, será possível aceder, não apenas a estes mapas, mas também, navegando no menu superior, à tabela atrás referida. Outros outros níveis de análise linguística poderão vir a ser contemplados.

O objetivo deste trabalho é a divulgação dos resultados, onde serão representados graficamente os mapas, as regiões e a correlação existente entre elas.

Equipa

– Lurdes de Castro Moutinho, Professora Associada, Universidade de Aveiro, Portugal (coordenadora)
– Rosa Lídia Coimbra, Professora Auxiliar, Universidade de Aveiro, Portugal
– Helena Rebelo, Professora Auxiliar da Universidade da Madeira, Portugal
– Alberto Gómez Bautista, Professor Adjunto Convidado do ISCA de Lisboa – Instituto Politécnico de Lisboa, Portugal
– Elisa Fernández Rei, Professora Contratada Doutora, Universidade de Santiago de Compostela, Espanha
– Xulio Sousa Fernández, Professor titular, Departamento de Filoloxía Galega, Universidade de Santiago de Compostela, Espanha
– AVoliveira – Analista de dados, Universidade de Aveiro.

Oficinas

SOUSA, X.  – Oficina sobre cartografia linguística coordenada por Xulio Sousa, Universidade de Santiago de Compostela. Participantes: Alexandre Vieira, Universidade de Aveiro; Lurdes Moutinho, Universidade de Aveiro; Elisa Fernández Rei, Universidade de  Santiago de Compostela
Espanha, Santiago de Compostela ILG , 02/02/2018.  http://congresso.varialing.eu/

SOUSA, X.  – Oficina sobre cartografia linguística, Xulio Sousa., Congresso Internacional em Variação Linguística nas Línguas Românicas, Centro de Línguas, Literaturas e Culturas Aveiro, Portugal, 02-04/05/2018.  http://congresso.varialing.eu/

MOUTINHO, L. C., Vieira, A., Rei, E. F. & Sousa, X. F. – Oficina sobre cartografia linguística do continuum Portugal- Galiza. Universidade de Santiago de Compostela, 8-9 de maio de 2023.

Organização das Jornadas em Variação e Cartografia Linguística

MOUTINHO, Lurdes de Castro e M. T. ROBERTO, CLLC;  Xulio SOUSA (ILG) (organização) –  Jornadas em Variação e cartografia linguística 9 de novembro de 2018, Departamento de Línguas e Culturas da Universidade de Aveiro.    http://jornadas.varialing.eu/

10h00 – Liberar-se das fronteiras. O contínuum xeolingüístico do noroeste ibérico (Francisco Dubert, Universidade de Santiago de Compostela) e

15h00 – A representación cartográfica da variación linguística como método de investigación ( Xulio Sousa, Universidade de Santiago de Compostela).

Publicações

MOUTINHO, L. C. et al. (2019). Análise dialectométrica e cartográfica da variação linguística. In Moutinho, L. C., Coimbra, R. L. Fernández Rei, E., Sousa, X. & Gómez Bautista, A. (eds.). Estudos em variação linguística. UA Editora.

MOUTINHO, L. C. et al. (em preparação). Representação cartográfica da variação geoprosódica. O continuum linguístico entre Portugal continental e a Galiza.